Santo Tomás de Aquino, um dos maiores homens da Igreja, nos apresenta uma realidade fundamental, também, para entender este desfecho final da parábola do semeador. Esse santo nos ensina: “Antes de ser formada santidade em cada um de nós, é preciso que seja formada a humanidade”. Ou seja, para ser santo/santa, antes é preciso ser gente.
A grande crise que vivemos hoje em nossa sociedade não é – diretamente – uma crise de fé, mas uma crise de humanidade, de cidadania, pois os valores – que são imutáveis e universais – se “tornaram” desvalores e os desvalores se tornaram valores. Como a santidade se dará numa pessoa tomada de desvalores, como: corrupção – também nas pequenas coisas -, mentira, indisciplina, roubos, promiscuidade, traições de todos os níveis e tantos outros?
A parábola da figueira estéril, para que possamos entender, é semelhante – na sua essência – à parábola do semeador, ou seja, é preciso preparar a terra do nosso coração. A semente – a Palavra de Deus – quando caída em terra ruim, ou seja, em humanidade deformada pelos desvalores, não pode dar nada, a não ser acontecer o que aconteceu com as sementes: roubadas pelos pássaros – maligno -, sufocadas pelas realidades deste mundo. Tudo isso por que as forças contrárias possuem força? Não! Porque a terra do nosso coração não se encontra preparada para receber as sementes. A terra é ruim? Não! Pelo contrário, pois fomos criados por Deus.
O Senhor quer nos ensinar, neste desfecho da parábola, que precisamos, urgentemente, trabalhar para a nossa formação: humana e espiritual, especialmente. Formar o homem/a mulher em nós é preparar a terra, retirando as pedras, os espinhos dos desvalores e fazendo com que a vida possua profundidade, para que a semente da Palavra não seja acolhida na superficialidade.
Quem é superficial naquilo que é mais precioso na vida nunca terá relacionamentos profundos: com Deus, com os outros e consigo. Não é difícil sermos de Deus e dos outros; desde que venhamos a nos formar nos valores e nas virtudes; para isso é preciso que venhamos a decidir pelo ser gente: homens e mulheres de caráter, dignidade, verdadeiramente humanos.
Daí podemos entender a tamanha brutalidade e desumanização de algumas pessoas em relação às outras, cujos meios de comunicação não param de nos mostrar. Sabe qual a maior desumanização? Não é o fato em si, por incrível que pareça, mas a indiferença que está enraizada em nossos corações.
Que Deus Nosso Senhor nos ajude a ser gente, para que possamos ser santos. A semente é maravilhosa; o que está faltando é terra fértil. Não existe terra ruim – a natureza já nos mostra -, o que existe é terra pobre, não trabalhada para o plantio. Invistamos naquilo que é prioridade, pois o dinheiro compra a casa, mas não compra o lar; o dinheiro compra a cama, mas não compra o sono; o dinheiro compra o livro, mas não compra a sabedoria; o dinheiro compra o remédio, mas não compra a saúde. Há coisas que só passam a existir se nascerem numa terra fértil: o nosso coração formado em Deus.
Padre Pacheco
Comunidade Canção Nova